A julgar pelo número de perguntas online, em blogs e nas redes sociais, o termo “natureza” parece ser confuso para a comunidade estoica. Seria ela a mãe natureza? Natureza humana? A ordem natural das coisas? Sem uma definição clara, o termo acaba ficando extremamente subjetivo dependendo de quem o lê.

Basicamente, a natureza no Estoicismo é o conjunto dessas duas coisas:

• A Natureza humana

• A Natureza do universo

Natureza humana

Os humanos possuem uma natureza semelhante à dos animais e das plantas. É da natureza das plantas extrair nutrientes do solo, realizar a fotossíntese, crescer em direção à luz e dar frutos na estação certa.

Já a natureza dos animais envolve agir de acordo com os instintos para sobreviver, comer, abrigar-se, procurar conforto e reproduzir-se. Um animal atacará se for ameaçado, caçará quando tiver fome e correrá quando estiver com medo.

Juntamente com esses seres vivos, nós humanos também temos o instinto de proteção e autopreservação. Seremos ferozmente defensivos se nossa existência for ameaçada, da mesma forma que um animal se tornará agressivo quando se sentir ameaçado. Também temos necessidade de comer, descansar, acasalar e socializar, uma natureza comum aos chipanzés e aos lobos.

Entretanto, temos um fator de diferença em relação Aos outros animais. Embora ainda tenhamos os instintos básicos de sobrevivência e reprodução, nós temos uma camada adicional, a capacidade única de raciocinar.

Temos o poder da razão.

Nossa capacidade de raciocinar nos permite escolher uma ação em detrimento de outra. Nos permite construir a ética e diferenciar o bem do mal.

A natureza humana, portanto, não consiste apenas em seguir todos os instintos de sobrevivência, mas sim em equilibrar a natureza animal com a natureza humana da razão. É exatamente esse equilíbrio que nos levará a uma vida feliz e virtuosa.

Por exemplo: a nossa natureza animal nos faz querer atacar quando nos sentimos desrespeitados ou maltratados; porém, se permitirmos que a raiva guie nossas ações, rapidamente nos arrependeremos do nosso comportamento. Nosso impulso animal também precisa da moderação (uma das quatro virtudes estoicas) da nossa natureza humana.

Portanto, temos duplo papel em viver de acordo com a natureza:

• Aceitar que compartilhamos os mesmos impulsos básicos que outros animais. No entanto, como humanos, não nos submetemos simplesmente a eles, mas usamos a nossa razão para satisfazê-los e moderá-los, a fim de equilibrar uma vida boa.

• Assumir construtivamente um papel em ser um participante ativo em nosso pequeno espaço no universo. Influenciá-lo de uma forma humana, utilizando nossas virtudes. Agir em prol do bem-comum.

Natureza Universal

“Medo da mudança? Mas o que pode existir sem ela? O que está mais próximo do coração da natureza? Você pode tomar um banho quente e deixar a lenha como estava? Comer a comida sem transformá-la? Pode algum processo vital ocorrer sem que algo seja mudado? Você não vê? É a mesma coisa com você – e tão vital quanto para a natureza.”

- Marco Aurélio, Meditações

A citação de Marco Aurélio nos ajuda a compreender parte do que os estoicos entendem por natureza universal. Para Aurélio, a natureza do universo é a mudança, podemos aceitá-la e trabalhar junto à mudança, ou podemos resistir e sofrer enquanto ela inevitavelmente acontece ao nosso redor.

Olhando para a natureza universal de forma mais ampla, trata-se de aceitar o mundo que nos rodeia assim como ele é. Resistir é inútil, pois não é o que pensamos que deveria ser.

O mundo é o que é e se comportará de acordo com sua natureza. As árvores darão frutas conforme a estação, as marés subirão e descerão, o tempo passará como sempre, os animais envelhecerão e tudo mudará. Viver de acordo com a natureza universal é aceitar as condições do mundo e viver em harmonia com elas.

Os estóicos abordaram a natureza universal através dos conceitos de morte, mudança, tempo e destino.

Sêneca escreve:

Se vês o último dia, não como castigo, mas como que uma lei da natureza, nenhum temor ousará penetrar nessa alma de onde tiveres expulsado o medo da morte.

- Sêneca, Consolação a Minha Mãe Hélvia

Para Sêneca, o sábio é aquele que caminha firme e sem medo para a morte. Não podemos controlar a forma como o universo funciona e não podemos mudar a natureza humana. No entanto, podemos decidir como agir dentro das suas regras.

Etapa de ação

Reflita sobre como você pode tentar viver mais de acordo com a natureza e tome medidas decisivas.

Aqui estão algumas idéias sobre como você pode fazer isso:

• Estude e adote técnicas estoicas, como o desconforto voluntário e premeditação dos males para ajudá-lo a lidar eficazmente com emoções difíceis e a enfrentar desafios. Isso o ajudará a viver de acordo com a natureza, apesar das dificuldades da vida.

• Faça um diário sobre qual você acha que pode ser o propósito da sua vida e como você pode alinhar suas ações com ele. Além disso, considere maneiras de eliminar quaisquer obstáculos que o impeçam de perseguir esse propósito, de atingir seu potencial máximo e, assim, viver de acordo com sua natureza.

• Comece uma rotina de registro no diário para identificar seus pontos fortes e ponderar como você pode utilizá-los para impactar positivamente a sociedade.

Lembre-se, a filosofia só mudará sua vida se você agir.

Referências

• Manual de estoicismo - Aldo Dinucci

• Meditações - Marco Aurélio

• Consolação a Minha Mãe Hélvia - Sêneca

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